Diariamente me deparo com o problema do utente que tem clinicamente um hipotiroidismo, e que trás análises “normais” pelo que não é tratado.
A tiróide é uma glândula que secreta hormonas fundamentais à nossa saúde e sobrevivência.
As análises habitualmente podem de facto estar “bem” e isto não significa que não tenhamos um hipotiroidismo periférico celular. E isto acontece porque o mecanismo de regulação a nível central, hipofisário” é diferente do mecanismo a nível periférico.
De facto a tiróide secreta maioritariamente uma pro-hormona( hormona inactiva), a T4. E esta tem de ser convertida em T3, a hormona activa.
Todas as células do nosso corpo têm receptores para as hormonas tiróideias. Isto só acontece também para outra hormona, a vitamina D.
Há factores que estimulam a produção de hormonas tiroideias, como o ferro, iodo, tirosina, zinco, selénio, vitaminas E, B2, B3, B6, C e O.
Há factores que inibem esta produção, como o stress, trauma físico ou emocional, radiação, algumas medicações (lítio), flúor, toxinas (pesticidas, plásticos,mercúrio, cádmio, chumbo), as doenças inflamatórias e autoimunes como a doença celíaca por exemplo, as dietas baixas em calorias, as infecções, o que acaba por ser um stress do corpo, a disfunção renal e hepática, a depressão, a obesidade, a resistência periférica à leptina e à insulina, a diabetes, a dor crónica, fibromialgia, fadiga crónica…
Nestas situações a hormona inactiva irá transformar-se em outra hormona que não é também activa, mas compete com a activa nos locais de ligação, fazendo com que esta não actue, ou seja a T4 (tiroxina) não converte em T3 (Triiodotironina), mas em rT3 (reverse T3).
Além do mais nestas situações a Deiodinase 2, enzima que converte a T4 em T3 a nível da hipófise, é estimulada, e a deiodinase 1, que converte a T4 em T3 a nível periférico é inibida.
Se a deiodinase 2 que existe a nível hipofisário converte a T4 em T3, pois é estimulada, a T3 vai inibir a TSH (tiroide stimulating hormone) e teremos um TSH “normal”. E muitas vezes o TSH é o único marcador que se utiliza! Mas nível periférico, por exemplo, nestas situações a deiodinase 1, que converte a T4 em T3 é inibida e a nível periférico o utente tem um hipotiroidismo intracelular.
Além do mais, a enzima que converte a T4 em rT3 por exemplo não existe na hipófise, sendo que nestas situações descritas, o corpo pode estar “cheio” de hormona inactiva (rT3), mas a hipófise pode ter os valores “normais” pois depende de outro mecanismo regulador.
Tentei simplificar mas de facto é muito mais complexo o sistema para que se possa compreender globalmente o que está a acontecer e se possa tratar convenientemente o utente.
O alerta é que ANÁLISES NORMAIS (as vulgarmente pedidas para estudo da função tiroideia) NÃO EXCLUEM UM HIPOTIROIDISMO CELULAR!