O que é o Selénio e como exerce a sua actividade
O Selénio é um elemento não metálico, que existe em pequeníssimas concentrações no nosso corpo, mas que desempenha um papel fundamental para o equilíbrio e manutenção da nossa saúde, através da incorporação como seleniocisteína nas chamadas selenioproteínas.
O que são Selenioproteínas
São as proteínas responsáveis pelos efeitos do Selénio.
As mais importantes:
Glutatião peroxidase (GPx1, GPx2, GPx3, GPx4)- Diminui o stress oxidativo e a inflamação removendo o peróxido que se liberta nas reacções e é tóxico.
Por exemplo no acto da formação da hormona tiroideia, aquando da incorporação do iodo, há libertação de peróxido. Se não houver glutatião peroxidase, este peróxido não é eliminado e vai destruir a glândula. Daí o Selénio ser fundamental para a boa saúde da nossa tiróide.
É também a Glutatião peroxidase que protege os lípidos do stress oxidativo provocado pelos radicais livres e que os tornará “aptos” a serem depositados nas artérias por exemplo. Só se depositam se estiverem oxidados e houver placa.
Também existe Glutatião peroxidase a nível da cápsula e núcleo dos espermatozoides, sendo essencial à boa fertilidade masculina e feminina.
Iodotironina deiodinases – Enzimas necessários para a formação de hormona tiroideia activa, necessitam de selénio
Tioredoxina reductase- É a enzima necessária para regular o estado oxidativo intracelular e o controlo da divisão celular. Protege pois do dano dos radicais livres às proteínas e DNA, suprimindo a oxidação.
Selenioproteína P- É a proteína de transporte do selénio, e protege da formação de peroxinitrito (ONOO-)
Selenioproteina epitelial prostática- Desempenha função protectiva tal como o GPx, nas células secretoras da tiróide.
Acções do Selénio?
. Anti oxidante. Anti-inflamatório . Anti trombótico
Como vimos a Glutatião peroxidase (GPx) remove o peróxido e assim diminui o LDL oxidado das paredes arteriais. Logo menos inflamação e menos risco de trombose.
Há estudos que indicam maior risco de doença cardiovascular nas populações com deficiência de selénio.
Também há vários estudos, o maior dos quais o EURAMIC que indicam uma relação inversa entre a quantidade de selénio e o risco de enfarte do miocárdio.
De facto, os estudos epidemiológicos nunca deram grande importância ao papel dos anti-oxidantes na doença cardiovascular.
O estudo EURAMIC decorreu com a colaboração de 11 países onde se avaliou o efeito conjunto do selénio, vitamin E e beta caroteno aliada à ingestão de ácidos gordos com o enfarte agudo do miocárdio e o cancro da mama. Para os mais interessados aconselho uma revisão deste estudo.
. Protege da mutação viral sendo que a sua deficiência está associada a estirpes mais virulentas e patogénicas.
Temos por exemplo a Síndrome de Keshan. Esta patologia é verificada na China, em zonas endémicas deficientes de selénio onde as infecções com o vírus Coxsackie, são mais comuns. São geralmente afetadas crianças e mulheres em idade fértil, que apresentam quadros de cardiomiopatia congestiva que leva à morte. A variação sazonal e anual indica que, além da deficiência do selénio, pode haver um agente infeccioso associado ao aparecimento da doença. O vírus Coxsackie tem sido isolado de utentes portadores da doença de Keshan e, estudos em cobaias com deficiência de selénio, mostram que o Coxsackie causa miocardite. A associação com o vírus, leva a pensar numa importante acção de mutação genética do RNA viral, que passa de estirpe não virulenta a estirpe virulenta, dada a deficiência de selénio.
Estudos em animais, mostram que o estado de selénio é de facto importante para a manutenção do equilíbrio oxidativo celular.
Nas cobaias deficientes em Selénio, podemos transformar estirpes pouco virulentas, como o Vírus da Gripe (Influeza A, estirpe Bangkok H3N2), em estirpes virulentas e causadoras de doença, dada a produção de citoquinas inflamatórias produzidas nos pulmões dos animais deficientes, o que não se verifica em animais com quantidade adequada de selénio. Também a GPx protege das mutações observadas no genoma viral que o torna agressivo e virulento.
. Protector do cancro (próstata mama)
Desde há muito que sabemos da importância do selénio como protector do cancro. Num outro dia vamos falar de alguns estudos mal conduzidos que tiraram conclusões diferentes. Mas voltamos ao princípio e teremos um dia só para isto: que tipo de selénio, que dose. Pois nem todos os selénios são iguais, e a marca importa sim.
Há mais de 20 anos que sabemos que observamos maior mortalidade por cancro nas zonas onde os solos são mais deficientes de selénio.
Estudos em animais indicam que a suplementação com selénio baixa a incidência de tumores causados por químicos e em 2/3 dos animais com tumores causados por vírus.
A acção anti-oxidante do selénio protege do dano oxidativo celular, protegendo contra o cancro. Existem inúmeras publicações que consideram o selénio um agente quimiopreventivo da génese dos tumores.
. Função cerebral
A função do cérebro é muito dependente do selénio. Em caso de deficiência o cérebro é o órgão que é privilegiado pelo organismo. Temos de lutar contra os stress oxidativos dos neurotransmissores e proteger a GPx da substância cinzenta, pois o cérebro não tem suficiente catálase, o outro enzima de anti-oxidação importante além da GPx e da Superóxido dismutase.
Sem selénio a dopamina baixa.
Há uma maior baixa das funções cognitivas nas pessoas idosas deficientes em selénio.
Na Doença de Alzheimer observamos uma redução de cerca de 60% os níveis de selénio encontrado em população “controlo”.
Alguns estudos referem um aumento de depressão, ansiedade, confusão mental e hostilidade em pessoas deficientes de selénio.
Uma dose de 100 ug é utilizada em alguns protocolos para reduzir ansiedade, fadiga e alguns casos de depressão, exactamente porque vai “mexer” com a tiróide.
Em doses superiores a 500 ug por dia ( doses de 400 ug podem ser tóxicas para alguns tipos de selénio) tem efeito quelante de agentes exteriores tóxicos (cádmio, chumbo, mercúrio)
Durante todos os processos bioquímicos do nosso corpo há libertação de substâncias oxidantes. Por exemplo nas infecções, inflamações e luta contra agressão de agentes exteriores, como por exemplo o tabaco.
Temos um sistema de anti-oxidação interna que é maioritariamente constituído pela GPx, superóxido dismutase e catálase. São as 3 principais enzimas anti-oxidantes. Se o trabalho deste nosso sistema de defesa for grande, porque sistematicamente estamos a causar danos ao nosso corpo (através da má alimentação e estilos de vida não saudáveis ou mesmo algumas medicações), este sistema interno de anti-oxidação pode falhar e desenvolver dano tissular.
Temos também sistems de antioxidação não enzimáticos que incluem a Vitamina E, a Vitamina C, o betacarotreno, ácido urico e taurina.
. Acção de fortalecimento no sistema imunitário
A eficiência do nosso sistema imunitário decresce com a idade. As pessoas mais idosas têm mais infecções do que os mais jovens ou mesmo de meia-idade.
Aliás as infecções no idoso são uma das maiores causas de morte, como inúmeros estudos referem.
A deficiência de selénio é acompanhada de perda de imunocompetência. A suplementação de selénio tem efeitos imunoestimulantes.
Alguns estudos indicam que a quantidade de selénio varia na razão inversa das NK cells.
. Desempenha ainda um papel fundamental na função tiróideia ajudando na conversão da hormona tiroideia inactiva T4 em T3, a hormona activa. E sem tiróide, nada no nosso corpo vai funcionar bem. Já vimos estes mecanismos no post 1.
. Fundamental também como já vimos para a fertilidade sobretudo masculina
Sem selénio em doses e na forma adequada, não pode haver saúde.
É todo um equilíbrio que depende dele, pois faz parte das mais importantes enzimas de protecção anti-oxidante que temos, a GPx.
Quais as fontes de selénio que temos? Como prevenir a deficiência?
. Cereais (aveia), ovo, vísceras (fígado), carne, perú, frango, bacalhau, marisco, cebolas, alho. Atum em lata (perigo do revestimento da lata com bisfenol A que é cancerígeno), cogumelos.
A farinha do pão, embora contenha quantidades muito variáveis (0,06 ug/gr – 0,646 ug/gr) de selénio, tem alguma.
As pessoas que não comem pão por terem intolerância ao glúten por exemplo apresentam geralmente níveis mais baixos de selénio.
Mas o pão tem outros problemas como o brómio, que compete com o iodo na tiróide, e eu pessoalmente não sou apologista do pão. Pelo glúten sim, mas não só. E se me vêm dizer que toda a vida desde Jesus Cristo se comeu pão e agora é que andamos todos com a mania do glúten, eu respondo-vos que sim, verdade, só que o glúten de hoje nada tem que ver com o glúten do tempo de Jesus Cristo. É geneticamente modificado e tem acções pois adversas ao nosso organismo, o que é visível em todos nós. Façam a experiência de retirar o glúten 2 meses da vossa alimentação e vejam o que acontece. Raramente não traz benefícios. Muitos.
Para os que não conseguem deixar de comer pão, as diferenças entre pão branco e escuro são muito variáveis dependendo dos processos de fabrico e tipos de farinha, não podendo extrapolar por isto que o pão escuro é mais rico que o branco, embora mais consistentemente o seja.
O alho e a cebola que contêm compostos sulfurados são capazes de armazenar muita quantidade de selénio se semeados em solos ricos, o que geralmente não acontece.(formação de selénio metionina/selénio cisteína, compostos orgânicos de selénio, os preferíveis como vamos falar outro dia).
As diferenças nos alimentos são muito variáveis consoante o tipo de solo onde são plantados. No exemplo do alho e cebolas a concentração pode variar entre 0.002 a 0,01 ug/gr podendo atingir níveis de 68 ug/gr se os solos forem ricos em selénio!
Logo não podemos dizer que alho e cebolas são ricos em selénio: isto depende do solo onde são cultivados, e faz muita diferença como vemos.
Como curiosidade vos digo que os criadores de carne suplementam muitas vezes os animais com selénio, por isso a carne é uma fonte de selénio e eventualmente os ovos, dependendo da qualidade de selénio que dão neste caso às galinhas.
Os criadores de gado fazem-no por diversas características que o selénio fornece à carne dadas as suas acções:
– Melhora o sistema imunitário do animal (menos mastites)
– Melhora a capacidade anti-oxidante da carne conferindo-lhe melhores propriedades organolépticas (sabor por exemplo)
– Melhora a fertilidade do animal
– Melhora a transferência de imunidade aos bezerros
– Menor retenção placentária, problema com que se deparam estes criadores e leva a mortalidade aumentada do animal (vacas)
A nossa alimentação na maioria das vezes está de facto deficiente em selénio daí a importância da suplementação, e pessoalmente é um dos poucos suplementos que uso habitualmente na minha clínica, pois que a correta alimentação deveria fornecer o que necessitamos, mas os solos já não são o que eram, estão desgastados.
E melhoras na energia e vitalidade são reportadas frequente e rapidamente pela ajuda na conversão de hormona tiroideia inactiva em hormona activa, a que vai actuar no receptor hormonal.
Qual a melhor “forma” de Selénio?
Os suplementos podem conter diferentes formas de selénio: selenometionina, selenito e selenato. Algumas marcas simplesmente misturam as leveduras com o selenito ou o selenato, segundo refere o Instituto de Linus Pauling. Se a sua marca tiver levedura de selénio este é referido e é a forma preferível como vamos ver.
O Selénio existe sob duas formas: a orgânica (seleniometionina e seléniocisteína) e a inorgânica (como selenito e selenato).
As duas formas são utilizadas na suplementação.
A forma orgânica é absorvida quase totalmente, cerca de 90%, enquanto que na forma inorgânica de selenito, apenas 50% são absorvidos. O selenato é melhor absorvido que o selenito, mas grande quantidade é excretada na urina não sendo utilizada pelo corpo.
O músculo esquelético é responsável pelo armazenamento de 28% a 46% de toda a pool de selénio que temos.
Todas as formas de selénio são convertidas em seleneto de hidrogénio, a forma celular de armazenamento do selénio, sendo então transformadas em seleniocisteína “de novo” e incorporadas nas selénioproteínas, que desempenham as importantíssimas funções de que já falámos na parte 1. O excesso é metilado e eliminado via urina e respiração. O excesso de seleneto pode ser oxidado levando à produção de espécies reactivas de oxigénio (ROS) e a efeitos tóxicos no nosso corpo.
Estas selénioproteínas são importantes pois protegem o nosso DNA, são importantes para a reprodução, para nos proteger das infecções, para o bom funcionamento da tiróide, protecção do cancro, doença cardíaca e stress oxidativo, entre outras.
A forma orgânica
Compõem a forma orgânica, a seleniometionina, a seleniocisteína e a levedura de selénio.
As plantas absorvem o selénio inorgânico dos solos e “transformam-no em forma orgânica, acumulando-a. A grande maioria como seleniometionina, dado que o selénio substitui o enxofre durante a síntese do aminoácido metionina, incorporando-se assim nas proteínas no lugar da metionina. É esta a forma predominante na castanha do Pará, cereais, legumes e peixes.
São pois as plantas que transformam o selénio inorgânico em orgânico.
Os animais que se alimentam das plantas adquirem assim este selénio que está armazenado na planta. A grande maioria seleniometionina, que é a maior forma de armazenamento, quer na planta, quer no animal.
A outra forma orgânica à parte a seleniometionina é a seleniocisteína, a forma em que o selénio tem de estar para fazer parte das tais 25 selenioproteínas importantíssimas à nossa saúde e que falámos na parte 1.
A levedura de selénio, é uma outra forma orgânica produzida para enriquecimento de alimentos e produção de suplementos, e é a forma preferível de suplementação.
Apresenta boa estabilidade na presença de vitamina C e baixa toxicidade, é uma forma “natural” não sintética. Depois é bem absorvida e retida pelo organismo, com mais benefícios para a nossa saúde.
60 a 80% da levedura de selénio é composta por seleniometionina, mas muitas outras espécies com importantes funções biológicas não referidas nas outras formas de selénio são encontradas nesta formulação, tais como a metilseleniocisteína e o seu derivado gamma-glutamil-selenio-metilseleniocisteína, que são as formas orgânicas encontradas nas cebolas, alhos nos vegetais crucíferos como couves e bróculos, e que são a forma que mais se relaciona à prevenção do cancro. Melhor que a forma simples de seleniometionina.
Obtém-se pelo crescimento da levedura Sacharomyces cerevisae (fermento de padeiro) num meio rico em selénio inorgânico, geralmente selenito. A levedura é capaz de incorporar o selénio na sua proteína ficando parte integrante desta. A levedura é esterilizado pelo calor e está “inactiva” não compondo matéria viva não havendo pois que ter receio quanto a risco de infecção.
Podem haver reacções cruzadas se houverem alergias a Candida spp.
Há também estudos que demonstram que a doença cardíaca isquémica e a insuficiência cardíaca podem resultar de um deficiente estado de anti-oxidação do indivíduo, sendo observada uma redução da baixa de mortalidade nos indivíduos idosos suplementados com CoQ10 e Levedura de selénio, quando comparados com grupo placebo.
Muitas composições associam a vitamina E que potencia o efeito anti-oxidante do selénio.
A forma inorgânica
Selenito e selenato de selénio. O selenito e o selenato são como vimos menos absorvidos do que a forma orgânica.
O selenito apresenta o problema que não pode ser tomado com vitamina C, zinco, cobre e outros minerais com os quais interage de tal forma que se torna inactivo. É a forma mais utilizada nas rações dos animais.
Quando em excesso tem propriedades pró-oxidantes o que pode causar efeitos tóxicos.
Podemos aproveitar este efeito para a apoptose mediada pelas ROS, nas células cancerosas. Estas células são mais susceptíveis ao stress oxidativo do que as células normais.
O selenato não reage com os minerais e pode ser absorvido na presença de vitamina C.
O selenito tem ainda o problema de se em baixas doses poder ser protector do cancro, em altas doses é mutagénico e pode favorecer o desenvolvimento dos tumores.
O selenato apresenta 1/10 do poder mutagénico do selenito e é cerca de 40% menos tóxico.
Conclusão
Não havendo alergias a melhor forma de suplementar é a levedura de selénio.
Qual a dose de selénio recomendada? Pode ser tóxico? Riscos do excesso
Todo o selénio que ingerimos vem do reino das plantas ou da água. Os animais alimentam-se das plantas e se não formos vegetarianos são uma boa fonte de selénio, também porque muitas vezes são suplementados pois beneficiam os criadores relativamente à produção.
A deficiência ou o excesso podem ser prejudiciais à nossa saúde. Na deficiência mais patologia cardíaca, cancro, patologia tiroideia, deficits cognitivos, etc, etc como já vimos na parte 1. No excesso maior risco para diabetes tipo2, embora os estudos efectuados tenham tido como maioria, população de idosos que por si só apresentam maior risco..
Então que dose tomar e é necessário de facto suplementarmos?
Em Portugal os solos são muito pobres em selénio, segundo estudos efectuados. Todos os estudos podem ser actualmente consultados na internet pelo que não encherei esta exposição com referências.
Portugal no entanto segundo um estudo europeu que aleatoriamente contribui com apenas 27 indivíduos, não tem e antes pelo contrário apresentava dos níveis mais altos relativamente aos outros parceiros. Por consumo de vísceras? Marisco? Carne? Cereais? A verdade é que 27 indivíduos não representam estatisticamente amostra relevante.
Quando a forma suplementada é de levedura de selénio, se tomarmos a dose máxima recomendada de 200 ug ao dia, mesmo em utentes que não tenham deficiência de selénio, não se atingem níveis de toxicidade. Há vários estudos que assim o indicam. Daí que este é mais um motivo para esta forma ser a preferencial.
A dose recomendada no adulto é de 50-200 ug/dia. Entre alimentação e suplementação não devemos exceder os 400 ug/dia.
De referir que cada castanha do Pará tem em média 55 ug de selénio na forma de seleniometionina, e que se comermos mais de 8 ao dia podemos atingir facilmente níveis tóxicos. São recomendadas no máximo 2-3 ao dia.
Sinais de toxicidade:
. Perda de cabelo, hálito alho, unhas e dentes manchados
. Distúrbios gastro intestinais, náuseas e vómitos
. Lesões cutâneas, fraqueza e baixa da função cognitiva
São factores que afectam a toxicidade:
. A forma química (orgânica ou inorgânica, sobre a qual já falámos na parte 4)
. A quantidade ingerida
. Susceptibilidade da espécie animal
. Outros nutrientes. Por exemplo, o consumo de níveis elevados de enxofre e de proteína pode reduzir o efeito tóxico do consumo excessivo de Selénio, devido à formação de Se-sulfito, que favorece a excreção do selénio pela bílis.
O perigo maior e de que não se fala é o da exposição industrial tóxica a pigmentos, equipamentos eletrônicos, fungicidas, fábricas de vidro ou semicondutores por exemplo.
Há no entanto população que está carente de selénio e onde a suplementação é fundamental:
– Deficiências imunitárias
– Doenças crónicas
– Crianças prematuras (doses mínimas de 15 ug /dia)
– HIV ou AIDS
– Toma de Estatinas
Fazer análise ao sangue não valida a nossa reserva de selénio.
A determinação no cabelo ou unhas fornece uma informação sobre a exposição crónica, ou seja, nos últimos 6 a 12 meses, anteriores à avaliação e é a preferida.
Estatinas e Selénio
A meu ver, a “guerra” sobre “dar ou não dar estatinas pois fazem coisas horríveis”, não faz sentido. Temos de atender aos factos, e não às opiniões.
A mim que sou médica patologista clínica que trabalha há dez anos em modulação hormonal, importam-me as reacções químicas e a forma química na génese da patologia.
Não dou nada sem saber como e onde funciona no nosso corpo, para dar o efeito pretendido. Deformação profissional por ser médica patologista clínica e pois de pensar em como quimicamente o corpo funciona e poderá reagir a um determinada substância que eu dê.
Se por um lado as estatinas baixam os níveis de colesterol e reduzem o número de enfartes do miocárdio, o facto é que verificamos cada vez mais mortes por insuficiência cardíaca congestiva.
É conhecido o aumento “epidémico” da insuficiência cardíaca crónica. Não vou discutir a relação direta com as estatinas, até porque todas as doenças sendo multifactoriais, têm trabalhos que apontam em todas as direcções que nos convenham.
A mim, o que me convém é o bem estar do utente, o que importa a nós todos os médicos decerto, mas com racionalidade, sem preconceitos e ideias estáticas como se “mudar” fosse deitar abaixo toda a minha estrutura enquanto médico cuidadoso e preocupado, que sempre dei o melhor ao meu doente, porque foi no que sempre acreditei, e porque sou inteligente e racional, agora questiono.
Esta conversa é para apenas discutir a relação entre selénio e estatinas. Colesterol e estatinas já falámos e há que aprender a ver “tiróide”, hormona que todos os médicos deveriam saber “manobrar”, dada as implicações em todos os nossos sistemas. Ver os próximos cursos em www.gemae.pt
E o facto é que sem as selénioproteínas, (temos 22.000 proteínas e apenas 25 selénioproteínas que contêm seleniocisteína) todos os mecanismos químicos protectores da oxidação e da inflamação do nosso corpo ficam em perigo.
E o facto é que as estatinas inibem uma substância a IPP (isopentenil pirofosfatase) necessária para a síntese das selénioproteínas.
O selénio que ingerimos não anda “solto” no corpo. Ele incorpora-se ou na seleniometionina ou em seleniocisteina. E a seleniocisteína também não existe “livre” nas células. Ela é incorporada nas selenioproteínas.
As selénioproteínas são importantes porque ajudam como já vimos à :
– Função anti-oxidante
– Função do músculo cardíaco
– Função músculo esqueléctico
– Sistema imunitário
– Função tiroideia
– Função reprodutiva
– Prevenção tumores
O que fazem as estatinas para baixar o colesterol?
Baixam a produção do ácido mevalónico e mevalonato. E este é necessário para a produção do colesterol. Logo menos mevalonato=menos colesterol.
Mas este mevalonato é também necessário para a síntese da IPP, e sem IPP, não teremos a formação da seleniocisteína nem consequentemente das selenioproteínas (rever a parte 1).
Sem selénioproteínas, tudo sobre o que estivemos a falar da protecção causada pelo selénio deixa de ter sentido.
Entre as acções acessórias das estatinas temos a miopatia e a polineuropatia.
A miopatia derivada da falta de selénio é muito semelhante à miopatia consequente do uso das estatinas (que se associou durante tempos a defeitos congénitos enzimáticos do utente): dores musculares sobretudo após actividade, fraqueza, sensibilidade, fadiga. Microscopicamente o padrão microfibrilhar é idêntico na sua desorganização e no disfuncionamento da mitocôndria.
Hoje sabemos deste outro mecanismo derivado do uso das estatinas na génese das miopatias: a baixa do mevalonato e da IPP e logo a baixa das selenioproteínas e de toda a sua importantíssima acção no nosso organismo.
O meu parecer relativamente à toma das estatinas já foi por várias vezes aqui referido.
Menos de 10% dos utentes as necessitam, pois na grande maioria dos casos, corrigir a função tiroideia corrige os níveis do nosso colesterol além de inúmeras outras situações.
Além do mais é sobejamente conhecido e sabido que as estatinas inibem a formação do CoQ10, importante factor para produção de energia tissular e um anti-oxidante dos lípidos solúveis importante.
Mas se tomar CoQ10 obvia este “mal” das estatinas, dar selénio não obvia o mal de não podermos produzir selénioproteínas, pois este selénio não poderá ser “incorporado” na seléniocisteína, dado inibir a formação do IPP, substância essencial.
E sem seléniocisteína não teremos selénioproteínas.
Lembrar que a falência cardíaca tem uma taxa de mortalidade aos 5 anos de > 75%, muito superior a qualquer taxa de morte por tumores.
Lembrar também que a falência cardíaca é caracterizada quimicamente por:
Níveis baixos de produção de ATP, aumento da disfunção mitocondrial, aumento do stress oxidativo e dano por radicais livres, aumento da disfunção endotelial e metabolismo cálcico comprometido.
Há estudos que mostram a redução da mortalidade por doença cardíaca, melhor função cardíaca e redução de biomarcadores de doença cardíaca, nos doentes que tomam estatinas e são apesar de tudo suplementados com CoQ10 e levedura de selénio.
Há estudos que colocam o selénio e os anti-oxidantes como “proibidos” nos utentes que usam estatinas, pois inibem a sua acção.
A ciência implica uma multiplicidade de factores impossíveis de ser tidos todos em conta e a verdade absoluta ninguém a tem.
Para terminar este enxerto do meu trabalho, proponho aos colegas irem rever a Síndrome de Keshan, percebendo o facto que a relação da baixa do selénio e das selénioproteínas desempenham um papel importante na génese da cardiomiopatia congestiva. A minha racionalidade faz-me apesar de tudo pensar também num factor genético dada a Sindroma de Keshan ser endémica. Mas o facto é que o selénio melhora a situação.
Eu, a todos os utentes que de facto precisam de fazer estatinas, a mínima dose possível, dou sempre levedura de selénio com Vitamina E e CoQ10.
Tento assim proteger as suas selenioproteínas, designadamente a glutatião peroxidase, e também assim o fígado da lesão hepática que as estatinas também podem causar ao utente. Não mais do que o tão usado paracetamol (acetaminofeno)
Fale com o seu médico. A maioria deles estão informados e saberão ajudá-lo.