Há tempos que estou para escrever sobre isto, dadas as dificuldade de grande parte dos médicos (sobretudo) perceberem o que é a “Modulação Hormonal”.

Eu diria que a modulação hormonal é o conjunto de todas as medidas que podemos utilizar para melhor fazer com que todos o processo hormonal se efectue da melhor maneira, para que haja uma optimização da formação, libertação, transporte, ligação a receptores hormonais, acção, metabolização e detoxificação hormonal.

Dar hormonas sem ter em conta a modulação hormonal é um erro escusado e desnecessário, podendo levar a problemas graves.

Exemplo da metabolização do estradiol na mulher. O estradiol por exemplo, hormona da energia, vitalidade, pele bonita, lubrificação vaginal, evita osteoporese, super antidepressivo, que nos faz dormir bem, termos libido e prevenindo inúmeras complicações que advêm pela sua falta na menopausa, por exemplo, ou pode ser degradado em 2(OH)estrona, estradiol não proliferativo, “bom”, via “normal” da metabolização, ou o mesmo estradiol, no mesmo corpo, pode ser degradado em 16(OH)estrona, estradiol proliferativo “mau”, sendo que todos os estudos referem que mais 16(OH)estrona do que 2(OH)estrona mais risco de cancro da mama cerca de 20-25 anos depois. E estes anos chegam num instante como sabemos.

E então fica a nota de que “estradiol” é perigoso! E NÃO! O estradiol é uma hormona maravilhosa para as mulheres, nós é que a podemos degradar mal se não tivermos cuidados com os nosso estilo de vida, pois de facto a metabolização é mais frequente para 16(OH)estrona nas mulheres que fumam, bebem cafés e tomam álcool, por exemplo. E entre outras coisas correntes do dia a dia que mais prejudicam esta metabolização também estão os antibióticos, as estatinas, os inibidores de enzimas de conversão e bloqueadores de canais de cálcio, os ansiolíticos e os antidepressivos.

E facilmente se diz a uma mulher que “estradiol pode ser perigoso” e esta mulher por exemplo que não dorme porque está em menopausa facilmente será medicada pelo mesmo colega que diz isto, com um ansiolítico ou um anti depressivo, alguns com seis vezes mais risco de desenvolverem cancro da mama, como a paroxetina por exemplo (é só procurarem os estudos em bases de dados médicas na net). Porque este colega tem “medo” de dar uma hormona, pois desconhece a importância da integração ambiental e do que é a epigenética (ciência que estuda a expressão genética através do ambiente).

Nós médicos temos de ter a noção da medicina integrativa e funcional. E alguns de nós, só não a tem, como eventualmente elucida mal o utente, falando do que não sabe, dizendo que a modulação hormonal não é uma ciência, andam todos agora a querer mexer em hormonas, pelouro até há pouco tempo de endocrinologia, ginecologia e urologia sobretudo, mas que na realidade não é bem desempenhada por muitos destes profissionais dado o pouco tempo de consulta, e exactamente a falta de conhecimento desta visão integrada e funcional da medicina.

E o utente hoje estuda, sabe o que quer, tem acesso a informação (boa e má) pela net, procura fontes credíveis e médicos que saibam explicar-lhe o que se está a passar e a forma de tratar, com conhecimento profundo de bioquímica, fisiologia, e fisiopatologia, adquirindo a confiança do utente e uma maior adesão ao tratamento que será sem dúvida mais abrangente e eficaz seguramente.

Sendo errado, pois de facto há que ter conhecimento profundo das ciências básicas para a compreensão de todo o processo patológico, por vezes os doentes até se automedicam, dada a falta de confiança e a falta de encontrarem um médico “que os perceba” e lhes responda convenientemente às suas questões.

Mas as faculdades continuam a ensinar-nos a  tratar a doença. Muitas vezes a mantê-la. Ninguém nos ensina a tratar a saúde.

Como se não percebêssemos da importância da prevenção para evitar recursos económicos que inexoravelmente serão gastos num futuro não longínquo. Cerca de 95% dos gastos de cada um de nós com a saúde são efectuados a partir dos 65 anos como já toda a gente ouviu dizer. E a longevidade está a prolongar-se sim. À conta de mantermos a doença, um excelente negócio só ultrapassado pelo narcotráfico.

É nossa culpa e todos devemos lutar para mudar esta forma de fazermos a medicina. Por nós e pelas gerações futuras. Por um Mundo melhor.

Somos formados para o diagnóstico e tratamento medicamentoso. Não temos uma cadeira de nutrição, nunca nos questionámos sobre a importância da nutrição e dos outros pilares na prevenção da saúde, pois a nós compete tratar a doença no seu estadio declarado. Só temos de ser muito bons para fazer um diagnóstico, para o qual já está instituído um protocolo medicamentoso.

E isto a meu ver é errado. A ver por esta forma, nem seriam preciso médicos não cirurgiões. Colocamos numa máquina os sinais e sintomas e sairá um receituário. Menos tempos de espera, menos custos diretos imediatos, mais custos diretos e indiretos e pessoais num futuro não longínquo.

Dou sempre o exemplo do hipotiroidismo, pois é caso muito frequente na minha consulta.

O doente pode até ter as queixas todas, mas como o TSH está “normal” não é medicado. Nem tratado. E tratar tiróide é tratar intestino, alimentação, verificar e corrigir a interrelação com as outras hormonas, eliminar toxinas, corrigir o sono e então eventualmente tomar um comprimido. Também já escrevi inúmeras vezes sobre tiróide e porque o TSH nada quer dizer. A rever.

Nós médicos temos de perceber o que é a modulação hormonal e integrar a reposição hormonal neste conceito para maior eficácia do nosso tratamento.

As hormonas não funcionam bem sem uma correta alimentação por exemplo. É lógico que sem nutrientes não se formam boas hormonas. Sem nutrientes as células não estão preparadas para responder a essa sinalização hormonal. Tudo correrá mal, ou menos bem, dada a plasticidade corporal uma maravilha da natureza, que apesar de todas as agressões que diariamente sofre e lhe fazemos, tenta adaptar-se e corrigir…o que pode…até que não pode mais e a doença se declara.

Nada no nosso corpo está independente do equilíbrio hormonal. Desde o crescimento do cabelo à vontade de urinar como costumo dizer.

Vivemos num mundo cheio de disruptores endócrinos, que criámos na natureza (mais de 100.000) e a cada momento o nosso corpo tem cerca de 200 produtos tóxicos dentro dele.

Se as hormonas comandam todos os processos químicos do corpo e o seu funcionamento pode ser perturbado por esta disrupção endócrina, a primeira coisa para quem quer fazer “modulação hormonal” é perceber um bocadinho de disrupção endócrina, sobre a qual já escrevi anteriormente também.

Assim modelar as hormonas, sendo tudo o que leva à sua optimização, engloba ter em atenção a alimentação (a maior fonte de disruptores endócrinos no nosso organismo), o exercício físico, a suplementação alimentar, a eventual reposição hormonal quando necessário, e sobretudo alterar os estilos de vida do paciente para estilos de vida saudáveis favorecendo o bom funcionamento das nossas hormonas.

Estamos a fazer modulação hormonal, quando comemos bem, nos exercitamos conveniente e adequadamente, temos em conta a necessidade de vitaminas, minerais, controlo de inflamação, stress oxidativo, eliminação de radiações electromagnéticas e toxinas por exemplo.

Assim, os nutricionistas com visão mais integrada e da chamada nutrição funcional, estão a fazer modulação hormonal. As pessoas que trabalham com exercício físico idem, cada um de nós ao ter em conta a importância dos cinco pilares da medicina anti-envelhecimento (nutrição, exercício físico, suplementação alimenta, reposição hormonal e estilos de vida saudáveis), está a modular as suas hormonas.

A “reposição hormonal”, sim, deve apenas ser efectuada por médico, e não por qualquer médico, mas médico com uma visão holística, abrangente, integrada da medicina. A também chamada de medicina funcional pois tem em conta a importância de todos os pilares para o bom funcionamento hormonal.

As hormonas não vão funcionar se as dermos num ambiente celular carente de minerais, nutrientes, vitaminas por exemplo.

Assim, a modulação hormonal está nas mãos de todos, sendo que o pilar reposição hormonal pelouro do médico, deveria por todos os médicos ser visto de uma forma integrada.

Médico que faça reposição hormonal deve pois elucidar o doente e ter conhecimentos na área da nutrição, exercício físico, manejar suplementos, pois alguns são de facto necessário dadas as carências actuais dos solos e ambiente, saber efectuar a reposição hormonal, não com protocolos, mas percebendo de bioquímica, fisiologia, fisiopatologia e análise de um boletim analítico, e de que parâmetros efectivamente precisa analisar para uma boa prática clínica. Gasta-se mais na primeira vez em que temos de analisar muitos parâmetros e muitas hormonas, pois estão todas interrelacionadas e mexer numa significa que indiretamente estamos a mexer nas outras . Mas poupa-se no futuro. Os subsistemas de saúde não gostam e os médicos retraem-se e depois pagamos mais tarde esta factura. O médico que faz reposição hormonal deve saber elucidar o doente sobre estilos de vida saudáveis e ter tempo para o fazer.

Muitos endocrinologistas assim, fazem reposição hormonal, sem modulação hormonal.

Indiscutivelmente cabe à endocrinologia o tratamento das hiperfunções glandulares e das hipofunções associadas a patologia concomitante.

Todas as especialidades no entanto, recebem utentes com sinais e sintomas, reflexo de desequilíbrios hormonais, e pelo menos deveriam saber identifica-los e orientar para quem de direito, caso não saibam tratar. Mas todas as especialidades deveriam saber de modulação hormonal e tratar fazendo a reposição hormonal  e prevenindo as deficiências que se instauram com a idade.

Tratar a causa, perceber pequenas alterações analíticas ou sinais e sintomas porque sabemos de bioquímica, fisiologia e fisiopatologia e por isso nos apercebermos de pequenas deficiências antes do estadio declarado da doença, deveria ser trabalho de todo o médico.

O médico de todas as especialidades, incluindo a endocrinologia, embora estes sejam os experts das hiperfunções e doenças já declaradas, (ou devessem ser, pois há bons e maus como bons médicos e maus médicos de medicina anti-envelhecimento que denigrem o conceito)  deveriam saber de modulação e reposição hormonal integrada no conceito de Medicina Anti-Envelhecimento, prevenindo o aparecimento da doença futura para nos permitir viver com mais energia e vitalidade, mais saúde e menos doença, como costumo dizer.

www.gemae.pt